domingo, 20 de fevereiro de 2011

O banco do Senhor Evaristo


Quando comecei a vir ao Paço todos os fim-de-semana para acompanhar o desenvolvimento das obras reparei num senhor velhinho que nos dias de bom tempo se sentava num banco de cimento colocado ao lado da rua, mesmo em frente à porta de entrada para a minha propriedade. O senhor tinha um ar de sofrimento com as maleitas da idade, andamento só com auxilio de muletas,  mas sempre cumprimentava e nos falava com um sorriso simpático no rosto. Um dia quedei-me mais um pouco à conversa com o Senhor Evaristo que me falou  entusiasmado do gosto que tinha em me conhecer e de estarmos em vias de sermos  vizinhos, que tinha sido grande amigo do meu pai, desde os dias em que fizeram a escola primária juntos ao longo de 4 anos. Contou-me histórias, muitas histórias, da sua (e do meu pai) juventude, das dificuldades e das alegrias da vida, da criação dos filhos, da doença e da velhice  galopantes, do sofrimento, das dores e da falta de mobilidade e de indepêndencia, da partida prematura do meu pai e da espera que estava a fazer pelo seu dia final. Naquela conversa revi muitas histórias que conhecia há muito, contadas pelo meu progenitor, e passei a ver o Sr. Evaristo como alguém que encarnava um pouco do meu pai. O meu pai, que tanto amei, ressuscitou um pouco a partir daquele dia, na pessoa deste simpático senhor. E durante quase 3 anos, sempre que o tempo alegra a esperança dos velhos, ali estava à hora mais luminosa o Sr. Evaristo sentado no seu banco, sempre com alguém por perto em amena conversa,  com o sorriso e a palavra agradável para este vosso relator de episódios de vida. Ainda há 3 semanas o encontrei no local do costume, no seu caminhar lento ajudado pelos andarilhos metálicos de velhos e aleijados, e como sempre nos cumprimentámos, falámos do tempo que fazia, da sua saúde e doutras banalidades que enchem as conversas. Na semana seguinte rapidamente percebi que faltava a chegada da carrinha do Centro Paroquial de Fataunços  que, tão pontual como o comboio da defunta linha do Vouga, à hora de almoço e de jantar vinha trazer as refeições ao casal  Evaristo há já vários meses. O sr. Evaristo tinha-se finado no Domingo anterior ao entardecer, justamente quando eu retornava ao Porto, depois do habitual fim de semana no Paço. Morreu em paz, sem longo sofrimento. Foi uma notícia triste: com o sr. Evaristo morreu de novo o pouco do meu querido pai que renascia cada vez que o  via e com ele conversava. 
E o banco do Sr. Evaristo lá estava hoje, limpinho pelas chuvas e ventos da noite passada, como que pronto para acolher o seu amigo, num dia que amanheceu escuro e triste.